segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sozinho, até que a morte me separe.

Assistindo a televisão, pulando de canal em canal por acaso parei num programa daqueles de cunho religioso, mas muito atual, com ares de programa pop onde discutiam a opção de permanecer solteiro nos dias de hoje. Para um programa religioso até que a abordagem do tema estava bem atual e interessante.

O tema era: “A gente pega mas não se apega” e a questão era: “Medo da decepção, falta de opção ou convição?”. Pelo telefone as pessoas respondiam à essa questão e até me surpreendi com o resultado. Eu acreditava que a falta de opção ganharia ênfase mas ficou com nenhum voto ao passo que o medo da decepção das pessoas com seus pares ficou com 90% dos votos dos telespectadores.

Eu vejo essa opção de permanecer solteiro motivada por todos os três itens da questão levantada acima, e não somente por um. Temos medo da decepção já que conhecemos bem a natureza humana e sabemos que os comportamentos se repetem. Se temos medo de nos decepcionar, é evidente que é por não encontrarmos uma opção (alguém) melhor que afaste de nós esse medo e nos torne confiantes num futuro a dois. Todos os bons partidos já estão casados, ouvi uma vez. Por fim, ficamos convictos de que é melhor estar só do que mal acompanhado, o que ainda é uma grande verdade.

Hoje fala-se que vivemos numa sociedade muito individualista, como se algum dia essa sociedade tivesse sido plenamente "coletivista". Lênin bem que tentou. Mas o russo trabalhador, que fazia sua parte, não gostou de saber que pagava indiretamente a comida do outro compatriota preguiçoso que não queria saber de nada. O Capitalismo permaneceu porque incentiva o esforço individual. E muito além disso, o Capitalismo permaneceu porque nada mais é do que a institucionalização da natureza humana, que é individualista desde sempre. O que há de coletivo em nosso comportamento é mais estimulado por fatores alheios à nossa vontade do que por um sentimento genuíno de fraternidade. E esse individualismo se manifesta em todos os aspectos da nossa vida, financeira (descaradamente), mas também na vida amorosa e afetiva (aqui meio que mascarada).

De fato, somos seres individuais (ou alguém já nasceu casado?), o que desanda é justamente essa necessidade imposta a nós pelos outros de que precisamos achar um par, contrariando nossa natureza. Não perguntam como estamos nos sentindo, perguntam porque não agimos como eles. Aliás qualquer forma de imposição “força a amizade” – na gíria jovem. Se a sua natureza é viver acompanhado, e essa é natureza de muitos, ótimo, vá a luta, ache o seu amor e seja feliz. Mas e se não for? É há pessoas que realmente não nasceram para viver a dois. Nesse caso o melhor é assumir sua liberdade, manter-se independente, e ser feliz assim. O que há de mal? O importante é fazer o que manda o coração e sentir-se bem consigo mesmo.

É LÓGICO (!) que cada opção tem suas vantagens e desvantagens. Sempre que estamos diante de um dilema, estaremos pesando os prós e os contras de cada opção. Não há nada 100%. Existem apenas opções viáveis ou inviáveis de acordo com nossas predisposições. Daí que, na vida a dois ou na vida a sós, antes de decidir por algo, será melhor fazer uma auto-análise para conhecer seu temperamento. Só decide bem quem está bem informado, mesmo que seja a respeito de si mesmo.

Sou um defensor da liberdade, mais do que qualquer outro sentimento (para mim liberdade é antes de mais nada um sentimento – há quem crie as próprias prisões). Vejo com alegria qualquer progresso alheio que torne o sujeito mais independente do que antes. Mas as pessoas se casam justamente porque não sabem o que fazer com sua liberdade – eu digo, há quem crie suas próprias prisões. O casamento, um subterfúlgio? Em muitos casos, com certeza. Ele pode se tornar um refúgio para não precisarmos mais encarar certas situações , ou melhor, para não termos mais de pensar. Você nunca ouviu aquele ditadozinho ridiculamente verdadeiro: “Quem pensa, não casa. Quem casa, não pensa!” ???

Independente de se optar pela vida a sós ou a dois, o importante mesmo é desenvolver-se livremente. Cuidar de si mesmo, do espírito, refinar sua personalidade, desenvolver seus gostos, suas competências, seu conhecimento, enfim, enriquecer sua vida de significados, unicamente para si mesmo (e não me venha dizer que assim não tem graça, você não existe? Só o outro que traz graça para sua vida?). E se a vida nos trouxer alguém com quem compartilharmos isso tudo, e que saiba apreciar sem querer nos mudar, PERFEITO!!!

3 Confortadores:

De Deus disse...

Ah cara! As pessoas dizem que é medo da decepção mas é mentira. Isso é só uma forma de se esconder atrás de uma desculpa mais aceitável. O que é mais fácil? Dizer que é solteiro porque gosta de ser solteiro e quebrar tudo, ou pq tem medo de se machucar? Não acredite nisso.

O capitalismo incentiva o esforço individual e premia o esforço coletivo. Pense nisso.

Você se equivoca completamente nesse parágrafo:"De fato, somos seres individuais...". Se o ser humano veio do macaco, a sociedade primata e animal é completamente dependente dos seres entre si, eles vivem em uma sistema de cooperação muito grande e alto proteção. Se o ser humano foi criado por Deus, Ele fez Adão e Eva, porque "não é bom que o homem esteja só". Esse negócio de homem "ser individual" é uma falácia do mundo moderno, o mesmo mundo moderno que proclama o "desapego" e que proclama a "era das experiências". Só não se equivoca na parte de o certo é fazer o que manda o coração e ser feliz, e quando não se é feliz?

Cleonice Braz disse...

Apenas digo que é essencial respeitar a vontade de cada um. Se a pessoa quer ficar só e se sente bem assim, legal. Se a pessoa sente necessidade de ter alguém, de se apaixonar, que encontre alguém que te faça feliz.
Não há como brigar com sentimentos, seja o de liberdade ou o de carência.
C'est la vie.

Squall disse...

Acredito que possam existir pessoas que gostam de viver isoladas da sociedade e que são felizes assim... que por experiências anteriores sabem que não foram talhadas para relacionamentos, que não conseguem abrir mão de certas coisas e que são verdadeiramente realizadas estando "sozinhas".
Mas o que eu não suporto é alguem medroso, que provavelmente foi machucado anteriormente, deixar de tentar buscar uma pessoa especial ou deixar de fazer qualquer coisa no sentido de conseguir um relacionamento. Isso é inadmissível! existem pessoas que são claramente dependentes de outra ao seu lado e você vê que estão realizadas somente quando tem um parceiro... esse tipo de pessoa pode tentar negar sua natureza dizendo que prefere viver sozinho mas no fundo está se enganando e deixando de correr atrás do seu proprio caminho!

Postar um comentário